quarta-feira, 30 de maio de 2012

Muitos compram o bilhete da festa, mas não a alegria;
compram roupas de marca, mas não o conforto;
compram o seguro de vida, mas não a tranquilidade.

Augusto Cury

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Rouxinol

O dia amanhecia silencioso. Iluminado apenas por alguns raios de luz, que despontavam teimosos do céu ainda escuro pela noite.
O silêncio era rompido com brincadeira de diferentes pássaros que pousavam nas árvores. Formando um colorido impressionante no contraste do verde oliva das árvores e as cores de suas plumagens.
De longe se ouvia aproximar. Pequena, menos de 30 centímetros, um grão colorido na imensidão. Avança audaciosa, num voar graciosa e infantil. Certa de que ali era sua casa segura. 
Faz contornos entre as árvores com o seu voar. Uma brincadeira alegre e gostosa de ver. Conforme sobe entre uma árvore e outra derruba no solo pequenos grãos de frutas, que semearão futuros brotos e se tornarão lindas árvores frutíferas. Nessa brincadeira passa dias alegres vivendo sua simplicidade.
Ingênua, nem percebe que está sendo observada por olhos de cobiça. Obcecados em captura- lá. É uma ave rara. Espécie em extinção.
Esses olhos acompanham os seus movimentos, mas não como um predador que busca faminto por um alimento. Como um ser mimado em busca de mais um bichinho de estimação para chamar de seu.
O sol começa a baixar, após um dia ensolarado repleto de tranquilidade e  beleza.
Acompanhada de sua família: pássaros de diferentes espécies, poucos de sua espécie. Nesse momento não há nenhum. Sente fome  e, como de costume desce da árvore e sai em busca de alimento.
Ao chegar no solo, caminha entusiasmada sobre as folhas secas, vasculhando em busca de pequenos insetos e larvas; seu prato favorito.
Avista mais a frente, alguns desses insetos em um montinho de folhas, e sai depressa para se alimentar. Aproxima o bico e sem ao menos comer um, é tragada repentinamente por uma arapuca, que prende-a de bruços pelo pescoço, enforcando-a.
Contorce-se como uma guerreira, apegando-se ao último fio de vida. Preocupa-se em preservar a de seu filho, ainda muito pequeno na barriga. Uma guerra inútil, pois já não consegue respirar.
Aos poucos se despede deste mundo de mãos dadas com seu bebê, que nem ao menos vai conhecer a vida.
Pela primeira vez diante de tanta beleza, fecha seus olhinhos, que sempre admirou e contribuiu para preservar o que muitos vêem com indiferença.
Por que foi que cegámos. Não sei,
talvez um dia se chegue a conhecer a razão.
Lueres que te diga o que
penso. Diz, penso que não cegámos, penso que
estamos cegos, Cegos que
veem, Cegos que, vendo,
não veem.
           
                                            José Saramago.